sábado, 15 de abril de 2017

COMO NEAL SCANLAN E A EQUIPE DE STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA TROUXERAM O BB-8 À VIDA

Como é possível criar um droide de Star Wars que seja diferente dos anteriores, mas ainda autêntico para uma galáxia muito, muito distante? Como é possível avançar no espírito de inovação de Star Wars, mas não ir longe demais? Como é possível manter a magia do design robótico de Star Wars, mas ainda assim fazer algo imaginativo? Essas foram as questões enfrentadas pelos projetistas, engenheiros e marionetistas que trabalharam em Star Wars: O Despertar da Força. Eles responderam misturando o antigo com o novo, encarando as expectativas, e saltando avidamente para o desconhecido. Eles responderam com o BB-8: o droide esférico adorável e de efeito prático.
Aqui está como eles fizeram isso. Design de droides 101
Quando chegou a hora de criar um novo droide astromecânico para o primeiro filme de uma nova trilogia Star Wars, o diretor J. J. Abrams começou como qualquer um poderia: ele fez um esboço em um guardanapo. É um início apropriado, considerando a aparência e sensação de algo quente, feito à mão, de Star Wars: O Despertar da Força. O esboço foi básico – dois círculos, um em cima do outro, com um pequeno ponto por olho – mas o conceito central estava lá. E isso foi poderoso o suficiente para fazer a bola proverbial rolar para o designer conceitual da Lucasfilm, Christian Alzmann. “J. J. queria algo rolando em uma esfera, então eu tentei muitos designs diferentes para desenvolver essa ideia”, diz Alzmann. “Ele dava a orientação sobre os tipos de formas de usar, e isso levou a uma personalidade para o droide. É claro que o esboço original tinha formas muito agradáveis, redondas, então você meio que percebe que não ia ser um personagem muito sério ou raivoso. Em última análise, o BB-8 se desenvolveu a partir de um processo de vai e volta com J. J. onde ele deu seu retorno para cada iteração do projeto.”
E para os fãs que inicialmente se referiram ao BB-8 como o droide “bola de futebol”, devido aos padrões em seu corpo, bem, eles têm a visão aguçada. “Eu olhei para um monte de bolas de futebol”, diz Alzmann, rindo. “Quando você está em um projeto como esse, você começa a olhar para tudo o que é esférico, em busca de inspiração. Eu acho que eu me deparei com uma bola de futebol, e falei, tipo, ‘Oh, isto é perfeito’.”


Com Alzmann solidificando o design básico do BB-8, uma decisão foi tomada de tentar criar o droide como um efeito prático. Neste ponto, o designer conceitual Jake Lunt Davies, da oficina de criaturas, desenvolveu o BB-8 ainda mais, trabalhando com muitas variações da cabeça e do corpo, e com a colocação muito sutil de recursos para realmente mostrar uma personalidade. O design final – um corpo esférico em rotação com a cabeça em meia cúpula quase pairando acima – tem uma aparência, muito simples e característica de Star Wars: imaginativa e funcional. E com o objetivo de transformar o BB-8 em um efeito prático, ele teria que funcionar de alguma forma.
Na oficina de criaturas
Mas acertar o design real do BB-8 foi apenas metade da viagem através do campo de asteroides. Era agora a vez da oficina de criaturas terminar a jornada. “Quando nós criamos um design desde o início”, diz o lendário Neal Scanlan (Babe, Prometheus), e chefe da oficina de criaturas de Star Wars: O Despertar da Força, “nós podemos mudar os aspectos do design para fazê-lo funcionar como um efeito prático. No caso do BB-8, não poderíamos fazer quaisquer concessões, já que o design já existia como um hemisfério sobre uma esfera. Então, nosso desafio foi levar isso para às telas.” É um desafio maior do que se poderia pensar – e enquanto o BB-8 é um objeto de cena prático, isso não foi sempre talhado em pedra. A equipe de Scanlan precisava descobrir se eles poderiam fazê-lo e, não inconsequentemente, convencer Abrams de que ficaria bom. Mas nesta fase inicial, eles ainda precisavam responder como fazer tudo isso.
“Lá fora no grande mundo aberto”, diz Scanlan, “todo o conceito do robô esférico, como ele poderia ser chamado, é algo que universidades e indivíduos têm explorado. Nós observamos muito de perto o que se poderia considerar a tecnologia existente e decidimos que ela não era suficientemente avançada para colocarmos isso em um droide ou em um robô que poderíamos usar no mundo do cinema. Ainda não, de qualquer maneira… Então, a ideia de ter versões do BB-8 que sabíamos que poderíamos remover aspectos digitalmente realmente abriu uma maior esfera de possibilidades.” Joshua Lee, designer de animatrônicos sênior na equipe de Scanlan, começou a trabalhar.
“Eu fiz uma pequena versão fantoche”, diz Lee, “porque havia muita conversa sobre como essa coisa poderia se mover e se ela precisaria de peças extras, como um pescoço que se estende, para permitir movimentos mais amplos. Eu tinha essa sensação de que ele não precisava de mais nada, e assim para provar isso, eu construí, em meio dia, um pequeno fantoche de poliestireno com os principais movimentos. Todos os movimentos da cabeça e a esfera rolando, e alças na parte de trás. Lembro-me que, assim que eu o peguei, ele era tão expressivo. Você podia ver que não eram necessários quaisquer outros movimentos extravagantes, que há muita expressão e caráter nas formas como elas são e na forma como a cabeça se move em um tipo de arco sobre a esfera. O Neal estava trabalhando em um escritório diferente no momento, em outra parte do estúdio, e eu animadamente corri para baixo e mostrei-lhe aquela coisa. Nós dois pensamos, é isso, há realmente algo aí, e uma versão fantoche seria uma das maneiras de se fazer isso no set de filmagem.”
Antes que qualquer filmagem pudesse começar, no entanto, eles teriam que provar a Abrams que ele iria funcionar para os seus propósitos, que poderia atuar com seus atores. Com a palavra Dave Chapman e Brian Herring, os marionetistas literalmente por atrás do BB-8.
“Nós tivemos, eu acho, duas semanas para nos estabelecermos em um estúdio vazio, apenas para descobrir como esse personagem se movia”, diz Chapman. “Neal Scanlan veio e nos aconselhou e dirigiu. Nós fizemos testes de câmera e gravamos para nós mesmos, e fomos encontrando todos os parâmetros de movimento deste personagem.” A personalidade de um droide – e sua descoberta – é algo em que o público em geral nem sequer pensa. Mas esse era o trabalho de Chapman e Herring, e isso significava não apenas descobrir como manipular o boneco BB-8 para transmitir alegria, tristeza, curiosidade e medo, mas definir como o personagem BB-8 iria transmitir essas emoções de forma consistente.
“O BB-8 pode levantar a cabeça e olhar para o outro lado, ele pode se surpreender, ele pode parecer amedrontado, ele pode demonstrar raiva”, diz Herring. “Conseguimos encontrar todo um vocabulário de movimentos para ele, por assim dizer. Nós elaboramos um monte de coisas. O que ele faria se você o desligasse? O que acontece com a cabeça dele se você desligar a energia? Ele desce escadas? Ele sobe escadas? Por fim, o BB-8 estava pronto para a sua audição.
“Nós fizemos reuniões [com Abrams]”, explica Scanlan. “Todo o crédito para o homem, ele não chegou a ver a sua versão do BB-8 marionete até cerca de uma semana antes de começarmos a filmar. Ele nunca nos pressionou, ele nunca nos fez sentir mal. Lembro-me do dia em que o mostramos a ele, sua primeira resposta inicial realmente ressoou comigo, porque ele olhou para a [presidente da Lucasfilm] Kathleen Kennedy e disse: “Que alívio”. E eu pude ver o peso do mundo sendo retirado dos ombros dele. Acho que foi esse o ponto em que, suponho, foi tomada a decisão de que poderíamos fazer de modo prático, e não precisaríamos usar a animação digital. Eu acho que até aquele ponto, estava decidido na mente de todos que, a menos que fôssemos capazes de entregar algo que fosse realmente credível, utilizável e fácil de dirigir, a única outra opção era a digital. Ele colocou sua fé e confiança em nós e, como tal, aparentemente, não decepcionamos. Então, depois que o mostramos a ele, o clima na sala ficou imediatamente mais leve. Todo mundo começou a se envolver com o BB-8 não mais como um efeito prático, mas como um pequeno personagem. Eles começaram a vê-lo muito mais como isso, e nós meio que construímos tudo a partir disso. O uso do BB-8 foi construído sobre essa primeira impressão inicial que deixamos em J. J. e Kathy”.


Este modelo de função, então, iria servir como um trampolim para um pequeno exército de BB-8s, todos com sua própria especialidade, projetados por Lee e Matthew Denton, o supervisor de design eletrônico e desenvolvimento. Havia o “contorcionista”, que era estático, mas podia virar e girar no local e foi usado para tomadas de perto. Havia duas versões triciclo, que tinham rodas estabilizadoras, permitindo que fossem dirigidos por controle remoto sem um marionetista em cena. Havia uma versão que podia ser pega pelos atores e controlada via controle remoto para reações e movimentos específicos. Havia a versão “bola de boliche”, o que podia ser literalmente jogada em uma cena e nunca cair (como um brinquedo do tipo “João Bobo”). Finalmente, havia a versão fantoche de vareta, que era operado por Chapman e Herring – um controlava a cabeça, acrescentando nuance e atitude, e o outro o corpo – que depois seria digitalmente apagada. Esta versão foi a mais fundamental de todas, capaz de atuar em cena. Lee e Denton fizeram toda a sua engenharia sem ver o roteiro, mas foram informados sobre certas ações que o BB-8 precisava fazer. Deu tudo certo no final.
“Matt fez o cérebro, Josh construiu o corpo”, diz Herring, “e, eu espero, Dave e eu demos a ele o coração e a alma.”
Ainda assim, para os designers do BB-8, havia negócios inacabados.
Transformando o BB-8 em realidade
Enquanto a equipe de Scanlan descartou um BB-8 totalmente funcional com controle remoto para filmar, eles nunca se esqueceram desse objetivo original. Apesar de ter uma carga de trabalho completa, eles tomaram a iniciativa de fazer um que fosse totalmente independente. Sem varetas, sem marionetistas, sem nada. O sonho.
“Era uma espécie de ferida ardendo em mim”, diz Lee. “Eu comecei a projetar essa ideia maluca de um que iria correr por aí e que também mostraríamos aos fãs. Então, nós realmente não podíamos fazê-lo para as filmagens, mas ele precisava ser feito.” Lee já tinha algum conhecimento de como ele iria trabalhar com base em sua Pesquisa e Desenvolvimento no início da produção. Seria uma questão de se decidir por uma técnica e, mais importante, uma que coincidisse com os movimentos e personalidade do BB-8, como estabelecido pelas marionetes.
“Há várias maneiras de se fazer um robô esférico”, diz Lee, “mas não havia nada que inclui uma cabeça articulada ou qualquer coisa que poderia girar no local – e isso é um dos movimentos que são a marca registrada do BB-8. Então, eu comecei a projetar o protótipo enquanto o Matt adaptou seu software existente para tornar possível controlar este novo BB-8”.
Bem… como é que ele fez isso?
“Eu não tenho certeza se quero dizer. Porque onde está a diversão nisso?”
Depois que Lee e Denton terminaram um protótipo de esfera cinzento que realmente funcionou, Scanlan o apresentou a seus chefes, garantindo um financiamento adicional. A pintura e o detalhamento foram então adicionados pelo designer de pintura e acabamento da oficina de criaturas, Henrik Svensson, para fazer com que este novo BB-8 ficasse fiel ao do filme. Colocou-se tudo junto a tempo de fazer uma estreia surpresa no Star Wars Celebration Anaheim em abril passado, durante o painel de Abrams para Star Wars: O Despertar da Força. O BB-8 rolou no palco, a cúpula virando para todos os lados, olhando para a plateia, fazendo sons para expressar curiosidade e circulando em torno do R2-D2. Foi a primeira confirmação oficial de que BB-8 não era uma criação em CG, mas sim um efeito prático, e os milhares de participantes foram ao delírio. O Denton operou o droide, tendo feito apenas um ensaio no dia anterior.


“Foi estressante porque todos os tipos de coisas poderiam ter dado errado, ao vivo, no palco”, diz Denton. No entanto, funcionou, e ele ouviu os urros da multidão. “Foi a melhor sensação que eu já tive, eu acho”, diz ele. Os presentes não foram os únicos impressionados com o BB-8 de movimentos independentes, no entanto.
“Quando aquela coisa entrou rolando no palco em Anaheim”, diz Herring, “Dave e eu estávamos fazendo um comercial na África do Sul e estávamos assistindo a transmissão ao vivo. E ele veio rolando, e nós ficamos tipo, ‘Eles conseguiram. Eles realmente conseguiram! Olhe para essa coisa!’ Nós ficamos simplesmente maravilhados.”
“Eu acho que a versão para o tapete vermelho, neste momento no tempo, é quase singularmente uma realização técnica que ninguém ainda conseguiu igualar”, diz Scanlan. “Nós acompanhamos, muito avidamente, os fóruns e os debates que as pessoas estão tendo sobre ‘Como eles fizeram isso?’, E ninguém ainda solucionou o problema realmente.” Assim, mesmo que ele não tenha sido usado em um filme (ainda), houve um salto gigante para “a espécie droide”.
Olhando para trás… e para a frente
Para todos os envolvidos, a experiência de trabalhar em Star Wars: O Despertar da Força e de criar o BB-8 não será esquecida tão cedo. Houve obstáculos, houve dúvidas, houve a alegria de conseguir e a alegria de ver a aceitação dos fãs. “Eu tive o melhor momento da minha vida”, diz Lee. “Este foi o trabalho da minha vida, de verdade. Este não poderia ter sido um projeto mais interessante, desafiador e divertido.”
“O mesmo aqui”, acrescenta Denton. “Eu acho que esta é provavelmente a melhor coisa em que eu já trabalhei, em termos do que o filme vai ser, e das criaturas e robôs com os quais trabalhamos.”
Em breve, o mundo verá o resto desse trabalho. Por enquanto, o BB-8 já fez um impacto, representando o deslumbramento que Star Wars torna possível.
“Espero que ele possa se tornar mais um dos realmente grandes e memoráveis personagens de Star Wars“, diz Herring. “Você sabe, você pode olhar para ele e R2-D2 e Chewbacca e dizer, ‘Oh, eles são todos do mesmo lugar, e todos eles participaram da mesma história.'”
“O que eu acho que é a emoção, para mim, vem do fato de que o mundo, até agora, só viu duas tomadas do BB-8 no filme e o material de Anaheim, o que é ótimo”, diz Chapman. “Mas, no filme, há muito mais coisas acontecendo e muito mais para verem. Estou animado para que eles vejam a jornada do personagem no filme.”

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